Doação de Gâmetas e Embriões

DOAÇÃO DE ESPERMATOZÓIDES, OVÓCITOS E EMBRIÕES

                               

Apesar de todos os avanços científicos e técnicos, há situações de infertilidade que não podem ser solucionadas com os gâmetas (espermatozóides ou ovócitos) do casal. Nestes casos, o casal pode recorrer à inseminação artificial ou fertilização in vitro com espermatozóides de dador ou à fertilização in vitro com ovócitos de dadora, consoante o problema esteja na ausência de produção ou na má qualidade de espermatozóides ou ovócitos, respectivamente.

No Centro de Genética da Reprodução é possível a realização destas técnicas desde que as indicações para as mesmas cumpram as exigências legais e da arte médica e exista um dador compatível (etnia, grupos sanguíneos ABO/Rh, altura, cor da pele, cor dos olhos e cor do cabelo).

É importante esclarecer que as características de um indivíduo não resultam da “média aritmética” das características presentes no ovócito e no espermatozóide, isto é, o resultado final não é expectável como quando se “misturam tintas”.

A famosa frase “Eu sou eu e a minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim”, do filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (1883-1955), pode também ser útil fora do seu contexto original para o entendimento correcto do que constitui a nossa “herança genética”: a maior parte das características humanas, normais ou patológicas, resulta de interacções entre um ou mais genes (gene: porção da cadeia de ADN que transmite a “informação genética”) e um ou mais factores ambientais (de natureza física ou química, biológicos, nutricionais, sociais, comportamentais, ambiente intra-uterino, localização geográfica,…). Isto é, a maior parte das características humanas resulta da interacção entre o “eu” (genes) e a “circunstância” (ambiente).

Assim, o efeito modificador do ambiente na acção dos genes contraria a ideia do determinismo genético. O conceito de que nós somos os nossos genes ignora, erradamente, a influência do ambiente.

Um dos aspectos mais surpreendentes da conclusão do “Projecto do Genoma Humano” (genoma: todo o ADN de um organismo), que proporcionou a completa sequência do ADN humano, em 2003, é que os seres humanos não têm muito mais genes do que organismos simples, como a mosca (por exemplo, teremos um número de genes semelhante ao Caenorhabditis elegans, um animal vermiforme com cerca de um milímetro de comprimento), o que consolida a ideia de que a diferenciação do ser humano não é o resultado da existência de mais genes mas consequência da complexidade dos mecanismos de controlo da sua actividade e da forma como interactuam.

Por outro lado, a semelhança da sequência do ADN entre os seres humanos é superior a 99,9%, o que permite a alguns autores afirmar que a análise do genoma confirma o que muitos biologistas têm mantido ao longo de muitos anos – que a raça é um conceito social e não biológico. A “raça” seria definida por menos de 0,01% dos genes.

Os factores ambientais podem actuar também de uma forma epigenética, o que significa que podem modificar a expressão dos genes e, consequentemente, as características de um indivíduo, sem qualquer alteração da estrutura do ADN. Estas variações de causa epigenética acontecem porque, apesar das “palavras” de determinada informação genética serem as mesmas, a forma como é realizada a sua “leitura” (a expressão génica) pode alterar significativamente a “construção” de muitas das nossas características.

O conhecimento de que, em ambientes distintos, a mesma constituição genética pode resultar em características muito diferentes assume um carácter de relevo nas gestações que resultam da doação de gâmetas e de embriões.

De facto, para além da privilegiada comunicação permanente entre a mãe e o feto ao longo de toda a gestação, nomeadamente através da circulação materno-fetal, são muito importantes outras formas de comunicação (pela presença, voz, toque, …), também extensivas ao pai. O provérbio “parir é dor, criar é amor” assumirá uma abrangência de maior plenitude ao considerar toda a influência, pré e pós-natal, que a mãe e o pai terão no desenvolvimento do seu filho.

Estas considerações não pretendem retirar importância ao “eu” mas clarificar tão rigorosamente quanto possível a notável influência da tão plural “circunstância” no resultado do “todo” que constitui a pessoa.

A selecção dos dadores envolve critérios claramente definidos, nomeadamente a ausência de história pessoal e familiar de doenças hereditárias, a ausência de história pessoal de doenças infecciosas transmissíveis, a normalidade dos testes de rastreio obrigatórios e os limites de idade (não é aceitável um dador de espermatozóides com mais de 44 anos nem uma dadora de ovócitos com idade superior a 34 anos). É também realizada uma consulta de psicologia, com vista à elaboração da história pessoal e familiar de doença mental assim como ao esclarecimento e discussão dos procedimentos e das implicações legais e psicossociais da doação.

É importante referir a dificuldade em recrutar dadores, pelo que há um apelo permanente ao espírito de dádiva altruísta. As normas legais portuguesas definem que a doação de gâmetas é voluntária, de carácter benévolo e não remunerada (embora os dadores possam receber uma compensação estritamente limitada ao reembolso das despesas efectuadas ou dos prejuízos directa e imediatamente resultantes da dádiva).

A informação relevante para as mulheres que pretendam doar ovócitos no Centro de Genética da Reprodução pode ser encontrada em www.doarvida.pt.

A FIV/ICSI com doação de ovócitos pode ser realizada com ovócitos frescos ou criopreservados. No Centro de Genética da Reprodução todos os tratamentos de FIV/ICSI com ovócitos doados são realizados com ovócitos frescos.




 

 

 

 

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Primeira Clínica, na área da Reprodução
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